O nascimento da ficção policial

Olá, caros leitores, no artigo anterior defendi o gênero policial, expondo meu ponto de vista de como ele nos serve não só para
o entretenimento, mas também para a compreensão das nossas sociedades. Aqui, e
nos próximos escritos, pretendo abordar, de forma panorâmica, o nascimento e o
desenvolvimento do romance policial, assim como analisarei alguns autores e
obras clássicas.
A arte não existe separada do seu
contexto histórico, ao contrário, ela é seu reflexo. Para entender por que a
Literatura Policial surge no século XIX é preciso se debruçar brevemente sobre aquele
período conturbado.
O século XIX foi, para boa parte dos
países europeus, o século da Revolução Industrial. A época foi marcada pelo rápido
desenvolvimento tecnológico, pelo êxodo rural e pelo surgimento do fenômeno
urbano. Era o nascimento da sociedade de massas.
As cidades, labirintos anárquicos, sujos
e superlotados, abrigavam uma miríade de classes e pessoas, algumas bem e
outras mal inseridas na nova ordem. Submetidos a um regime de trabalho e de
vida brutais, os operários eram expostos ao lado sombrio das sociedades
industriais. Quem não se integrava era empurrado para a marginalidade. Como
resultado assistiu-se ao alto índice de suicídios, de alcoolismo, de
prostituição, de roubo, de violência e de assassinato, grandes feridas nas
entranhas do corpo social.
Ao caos proveniente da urbanização descontrolada
e do aumento vertiginoso da criminalidade, o Estado respondeu com a monopolização
do exercício da violência, com a organização de códigos criminais, com a
construção das prisões e com a criação de uma instituição repressora, que objetivava
a manutenção da ordem: a polícia. Assim nasceram os personagens principais das
histórias policiais: o criminoso e o policial/detetive.
O ambiente intelectual estava pautado no
Cientificismo. Resumidamente: a crença na ciência e no método científico como
base de exame, compreensão, explicação e intervenção na natureza – inclusive na
sociedade, que era vista pelos primeiros teóricos sociais como um “organismo
vivo”. Não é por acaso que no período nasceram as Ciências Sociais – incluindo
aí a Criminologia.
Outro fato importante a ser mencionado é
o nascimento da imprensa da massa. Jornais, folhetins e os penny dreadfuls (publicações periódicas e com material de baixa
qualidade, contendo histórias de monstros e de assassinatos e que eram
consumidos pela classe trabalhadora e eram vistos com desprezo por muitos
intelectuais da época) abriram caminho para a apreciação de uma literatura
ligada ao lado negro da humanidade e da sociedade industrial.
O cenário estava posto, os fatores
estavam ali, “passeando livremente”, como que esperando alguém para juntá-los e
dizer: “Isto aqui dá uma história. Ou melhor: várias histórias. E das boas.”. E
claro, para a nossa felicidade, alguém fez isso.
Apesar de todas as conjunções sociais,
políticas e culturais terem surgido na Europa, curiosamente foi um autor
estadunidense quem inaugurou o gênero policial: Edgar Allan Poe, com o conto Os Assassinatos da Rua Morgue, em 1841.
Entre 1827 e 1831 esteve mais ligado ao
militarismo do que à escrita. Depois de uma curta passagem pelas forças
armadas, ingressou na Academia Militar de West
Point, da qual foi expulso, supostamente por insubordinação, em 1831.
De 1831 a 1849, ano de sua morte, Poe trabalhou
como poeta, contista, editor e crítico literário. A temática das suas obras
girava em torno do lado sombrio da vida e do ser humano. A ele não se pode
apontar apenas a paternidade da ficção policial, mas também contribuições nos
gêneros de terror, horror, mistério, suspense e ficção científica. É tido por
muitos críticos como o criador do Conto
enquanto gênero literário. Em 1846, com a Filosofia da Composição, sua obra
“teórica”, aponta a necessidade do trabalho árduo e meticuloso do escritor, a
fim de criar o impacto desejado no leitor.
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